sexta-feira, dezembro 5

Um Luar

Ele chegava em casa todas as noites
Tardes noites
E encontrava seu doce anjo à esperar
Voltando seus olhos para fora da janela
Fixos na Lua
-Oh doce amada, desperta. Vem dar teu calor ao azul escuro do céu.

E por tantos anos e anos foi assim
Todos os dias, as noites em que ele chegava
Lá estava ela
A luz de sua vida
Brilhando - sentada na cama olhando o céu
Infinito céu.

Ela se findou
Em luz.
Em ar.

Uma noite
Triste noite ele chegou e não mais ela estava lá
A cama arrumada, a janela por completa aberta
Frio e vento se faziam presentes apenas dentro de lá

Ele correu em seu desespero
Pensava que para todo o sempre ela estaria ali a esperar
Não mais.

Quando ele notou para fora da janela
A Lua estava maior
Mais branca. Pura.
Ela havia ido para lá
Deixando-o e não mais precisando ele esperar.

Ela sempre foi um luar.

sexta-feira, novembro 21

Pouco. Tudo.

Imagino o sol fora da minha janela embaçada, como vejo todos os dias ao acordar. Mas dessa vez vejo nós dois olhando através dela, minha janela. Numa manhã de sol e ar fresco.
A luz entra, e sinto a brisa passar vagarosamente em meio aos fios de cabelo.
Tentamos espantar a terra do sono.
E mesmo sabendo que não faremos nada o dia todo, o dia se valerá.

Levanto, com uma força fraca que me puxa, e saio da minha segurança fechada.
Sentada no jardim, com um vestido qualquer de cor leve, puxo meus pés para cima da cadeira, estão brancos e limpos, como lá.
Sentada frente a uma mesa que fica ao lado da pequena vala de água que corre
Ouço, um som tão doce.

Ascendo o fogo, preparo com calma o chá que iremos beber por horas. Surpreendo-me por duas mãos puras e fortes deslizando meus quadris - Tão calmo, tão fundo. E toca tudo o que precisa. Como quer. Onde e como preciso. Horas ali. 
Meu menino
Agora você sabe.
Tão forte. Só um menino.


Mil vestidos para colocar e você ver. Todas as atuações para fazer. Tudo como quiser.
Me encha com seu brilho.
Te colocando agora sempre no meu show.

Precisando ter. Chorando sem saber o quanto mais vai querer.

Um túnel de luzes, milhares delas. Sofro de medo à noite fria.
Sofria...

Olá paraíso. Acordei. Te vejo em luzes douradas me segurando fraca.
Com jeito, fico segura em seu colo. Não temo mais. Fique aqui.


Danço no jardim a noite, giro com as estrelas. Minhas estrelinhas; Você dali olhando sentado, com as mãos apoiadas próximo ao rosto, apenas sorri, vendo como se pode ser feliz numa noite sem nada. Com tão pouco.

Uma vida. Como eu posso? Como podemos? Não temos nada.
Temos tanta coisa.
Tudo.

sexta-feira, outubro 3

Poente

    Quando estou abaixo do Sol vestida com um pano leve e solto
Sinto cada centímetro de alma ser aquecida - parte a parte
Me parece que todos os problemas de minha vida são inexistentes
Nada me preocupa, nada me pesa, nada mais me importa.
Nada além do Eu ali e só ali. Ali. Só.

O mal estar que sinto e que me acompanha a cada passo, noite pós noite
Já não é mais possível me deixar. Sem isso não ser mais ser eu.
Pois sei, não sou o que realmente sou diferente de ser assim.
Nunca existi diferente do que sou.
E quando me pego lembrando de todas as coisas que já quis ser e ter num passado
Nenhum mais desses desejos existem em mim. Nenhum deles me impulsiona sair daqui.
Não sou o que anos, tantos anos me enganei ser - Eu, um ser feliz.

Minha cabeça queima como se fosse uma brasa já quase totalmente apagada
Mas ainda como uma brasa, queima e se faz doer
Quente e queimando lá existe.

Todas minhas noites de sono que duram horas e horas seguidas, são as noites bem dormidas
Quando com ele estou, sou tão feliz. Mas me engano em achar ser.
Como tudo é algo que terá fim.
Nas noites que passo em claro, são horas sem fim. O dia parece nunca enfim clarear.
Sou eu em mim.

Minha xícara de chá. posta no meio do meu jardim espera por mim
E lá ouço os pássaros cantarem. Fim de tarde de Sol poente esquentando a mim.
Bebo da xícara, sinto tanto falta dele. Choro como se lágrimas pudessem levar o que dói aqui.

Bem por dias, outros desolados. Mas nunca tão infeliz ou feliz.
Vivo.
Um ser mal completado.

segunda-feira, agosto 4

2[C]2 .1.

.
Muito tempo passou e notei ter perdido então algumas coisas do que poderia ser
Eu ser. Ter sido. Ele - Tudo enfim
Uma sensação estranha se fazia presente durante o tempo todo
O que foi uma nuvem negra e pesada por muito enfim começava se desfazer
Sentia um feixe de luz abrindo acima no Céu; provavelmente aliviando a tensão de tanto tempo.

Por incontáveis vezes em pouco tempo passado, eu abria a janela durante as garoas
Procurava encontra-lo ali, frente a minha casa, esperando e tendo algo para falar
Mas sempre o que via eram árvores molhadas e o vento com força fazendo-as balançar
Ele, na verdade, nunca encontrei por lá.
Sentia-me congelar e isso me fazia feliz. Mas sangrava muito a dor interior, então voltava.
Uma vez quase morri assim.
Voltava os olhos postos ao Céu, a lua, a água que não queria se calar.
Chovia e só chovia por lá. Acredito que por muitos anos
Todos os dias. Todas as noites. Sem cessar.
Eu precisava ver o azul escuro para poder lembrar
Precisava ver a luz do dia para então chorar
Sempre chovendo. Sempre chovendo.
Doia-me os braços, as pernas, meus olhos que não conseguiam se fechar
Não dormia, não comia - vivia a analisar
A cama tinha um cheiro doce, o quarto ar o quente que não me permitia por algum motivo sair
Como não conseguia então, aprendi a viver lá.
Assistindo todas as madrugadas devagar; pouco do mundo estava acordado para acompanhar
Me fazia um estranho bem todas essas horas desse desgastar.
Consegui depois de tantos e tantos dias assim mal vividos, aprender a gostar de tudo que ali se fazia estar
Cada gota que chovia, cada luz que aparecia, cada música que ouvia. E o eu, o eu ali estar.
Então era - Sozinha. Com o tudo daquele nada - Por muito vivi lá.
Certo dia, olhando como de costume à minha janela de vidro embaçado
Por ali ele passou, eu não conhecia, nunca havia visto
Mesmo tendo ficado centenas de tempos há tempos ali sem nunca parar de olhar
Não era comum, nunca passeava por entre as ruas em que eu costumava habitar
Dessa forma, não pude não perceber sua existência nova naquele lugar
Passava por ali, salvando a vida da minha janela embaçada por dias e dias
Eu não conseguia falar.
Minha janela apesar de dar vista a tudo de belo a frente de onde eu vivia
Por algum motivo me impedia de falar
Certo dia, num fim de tarde, como de costume, estava eu deitada de costas para o Sol
Que já começava a em noite se transformar.
Ouvi seus passos e suas mãos duas batidas em minha janela dar
Ele que passava na frente de onde eu vivia vinha me convidar para passear
Falei que não podia, não sabia mais como sair de lá; Sentou a minha frente e então se pôs a chorar
Esperou assim o Sol de vez sair de lá, antes que a lua viesse minha casa clarear - Puxou-me
Tão forte, querendo dali de dentro me tirar. Não conseguia.
Me disse que não sabia o que me fazia ali dentro presa estar
Não haviam grades. Não haviam trancas.
Não enxergava o que me deixava presa dentro daquele lugar
Ele notou em minha roupa manchas e o rasgo do lado esquerdo de minha blusa
Olhou para baixo, levantou os olhos e sorriu
Soube que de costume eu fazia algo que então era certo que me impediria sair de lá
Pediu gentilmente que eu tirasse meu coração, notando que era esse o motivo de meu sangrar
Tirei, com medo da intenção que aquele novo quisesse me causar
Quando tirei, ele quase já não batia, quase nenhuma cor mais havia
Ele estendeu a mão me pedindo para segurar
Fiquei com medo por lhe entregar
Sabendo ele que eu não conseguia dali sair poderia fugir com ele e eu não iria mais respirar
Em suas mãos, ele segurou com força, como sua aparência costumava mostrar
Cortou então o seu próprio lado esquerdo, que estava oco e sem cor. Colocou o meu no lugar
Olhou para o Céu- A lua começou clarear
Pediu minha mão para de novo dali tentar me tirar.


Por algum motivo, sem que nada físico eu visse eu consegui sair de lá.

A janela fechou.
Clareou a luz da lua. Eu e ele
Na rua que apesar de eu sempre habitar, nunca havia saído para passear.

sexta-feira, maio 23

Analisando Átomos


  Sua vida começou - ai está o som de um retroprojetor rodando
Antes de você, antes de todos que lhe trouxeram até aqui, galáxias explodiram
Estrelas nasceram, o Sol ficou mais frio e mesmo assim a vida sempre continuou
Você agora mora nesse mundo, assista sua curta e medíocre vida perante tudo isso
É um bebê deitado dentro de seu berço temendo a tudo o que o cerca e chora para poder comer
É uma criança sentada em seu quarto com medo da morte de seus pais após ter descoberto o que é morrer, Rindo de bolhas de sabão, correndo sem nunca cansar, colorindo o mundo com uma caixa de lápis de cor, Encantada com um avião a decolar, com uma dor inconsolável por ver um passarinho morrer
Pintando os dedos dos pés, olhando as nuvens correr, sorrindo sem falsidade e desejando crescer
Agora és um adulto, um pobre, um diabo, um oco ser - Perdeu-se toda a certeza
Continua a assistir sua vida de dentro de sua janela, agora trancado, com medo, desconfiado do tudo
Cartas de um baralho de incertezas giram a sua volta, a profecia do incerto que você diz saber
Tenta-se pegar uma no ar, para que possa seguir de fato um caminho. Nada sabemos
Palavras de amor saem da sua boca e entram perfurando o coração de outra - Você está amando
Um dia, um abraço, alguns momentos juntos, um afagar nas mãos, o beijo, o esperar, planejar um futuro
Desperdiçando todo o tempo, assistindo aos filmes, decorando canções de amor, escrevendo cartas,
Tomando o corpo do outro como um alvo desejado - O  casamento; o amor eterno agora; a casa
A vida a dois; os filhos; os planos; as viagens juntos; a família
O cansar, a rotina; o acostumar a qualquer reação
As falhas, mentiras, desgostos -   Prometendo o que não poderá cumprir.
O amor acabou - Os amantes se separam em dor, em perda da total razão. Se foram as certezas
A vida te desperta te dando as cartas que tanto você queria
Seu peito agora falta um pedaço para sempre.
Fim de uma vida.
Sua mãe lhe consola, colocando as mãos idosas com textura já de papel sobre as suas que estão tremulas
Ela diz que você precisá recomeçar - É tudo tão escuro, difícil e vazio. Mas ela estará sempre lá
Apoiando você em tudo - O coração dela é um mar sem fim de um amor maternal.
Ela te promete sempre te apoiar, como sempre mesmo fez. Um dia ela também se vai
Seu peito agora é duro e frio, a perda de quem nos fez, de quem nos criou e tanto nos amou
Nosso apoio, nossa base, nosso pilar
Para onde se foi? Quem lhe tirou? Um eterno adeus a quem mais nessa vida te amou
Mais um buraco profundo existe agora em seu peito
Você sente o fim da tarde como um pesar melancólico e tão doloroso - A vida pesa; O mal estar
O por do sol dessa tarde ensolarada é mais triste do que qualquer dia de sua vida
O por do sol da própria alma. Não há nenhuma luz nessa escuridão
Isso lhe deixa para baixo, não há saída de si, não há tempo para analisar
Você desiste da vida que conhece, viaja para longe, encontra pessoas e vidas que nunca viveu
Todos se conhecem, se unem, se amam, se completam. Você não faz parte disso, não há vida ali
Sua vida não existe lá. Não há tempo. Você viajou para tão longe, o que encontrou?
Um trem que corre tão rápido não faz sentido para você, nenhuma paisagem mais lhe interessa
Longe de seus filhos, de sua casa, da mulher que amou. Outros demais talvez morreram

Você nunca esteve tão bonito - Perdeu-se toda ilusão, não está mais interpretando
A vida inteira esteve interpretando
Não há mais tempo para analisar
Então você olha a vida novamente pela sua janela, seja qual for
Do trem, do quarto, do coração e da vida.
Te pesa tanto as horas do dia. Agora você se conhece
Já amou, perdeu, sofreu, duvidou, criou e finalmente existiu
Abrindo o livro que tantos anos mofou na sua estante, então o lê - Ele é incrível!
Você deveria ter lido antes, há tantos anos; possivelmente tudo em sua vida seria diferente se tivesse lido
Então repouse com o livro ao seu lado, feche seus olhos, durma como uma criança cansada de brincar
Cansado então de viver
Mas esperando sempre poder acordar
A vida já não mais planeja o seu ser
E não se calculam álgebras
Não se contam mais os átomos
Não mais importa o correr dos ponteiros
O Sol ainda está ali
As estrelas irão esfriar
A poeira cósmica do todo da vida
Então durma
Você parou de interpretar.

domingo, maio 11

Definição para o Trabalho de Teatro - O Artista Real


  O teatro é um lugar puro - em técnicas, de cenas, de sentimentos que não são reais mas são vistos
O palco é sua ferramenta de base, como o chão de uma casa, mas nada é sem quem mora ali
Os atores são a vida do que é sustentado por aquele chão - A vida que emprestam ser
Mas nada nesse meio é uma brincadeira como a maioria pensa ser, dizendo ser diversão
Teatro não é diversão, não é um hobby, uma fuga dos dias de trabalho remunerado. Não.
Teatro é em sua definição a arte que mais necessita de dedicação, estudo e conhecimento
De forma alguma como tantos atores, diretores, cenógrafos dizem ser uma arte de divertimento
Não existe escape em diversão dentro do teatro, a não ser para aqueles que assistem um humor
Humor apenas no ato em cena, já feito, já criado - O trabalho em si
A atuação, seja ela no gênero que for necessita de todo o estudo e ensaio
Seja para fazer quem assisti rir do começo ao fim ou para faze-los chorar como nunca haviam feito

O teatro é seu trabalho como um todo, como qualquer outro que precisa de foco e atenção total
Não há nesse âmbito espaços para dizer que se está lá para desanuviar a cabeça e conhecer pessoas
Não há essa "liberdade" imposta de quem é do teatro não tem preconceitos, é livre de sexos e medos
Pessoas do teatro, as que que pertencem mesmo ao trabalho, a vida nele, sofrem de todo o mal do resto
Cor, sexo, medos, carências de atenção, duvidas e problemas financeiros
Não se deve pensar que ser do teatro é viver da boêmia
Bêbados e compondo o que se bem entende - "Aceitem minha arte quem quiser!" Não.
Teatro precisa de trabalho, foco, estudo, respeito e como qualquer outro modo de viver - retorno
Artistas medíocres gritam aos ventos que são o talento deles acontece sem esforço
Que só precisam aproveitar o bom da vida, beber, usar das pessoas e ir lá ganhar sua glória de artista
Artistas esses nunca foram, mas por mais que incrível que não se entenda
Ninguém lhes tira da cabeça que eles creem mesmo o quanto são bons, sem ser.
Mesmo que todos saibam que não passam de jovens abutres que pousam no esforço dos que fazem
Muitos elogiam, vangloriam e até acham graça desses que levam mérito sem ter
São espertos, sagazes e criam oportunidades, dizem eles, mas não - São fracos
São como em qualquer outro meio de trabalho pessoas que usam e estragam o que poucos são
Os atores de verdade. O teatro de verdade. A vivência cênica real é tão maior que toda essa ilusão
É uma vida de estudo, de ensaio, de busca, de foco, atenção, compreensão e então sim - o apresentar
É necessário ganho, troca, retorno e sempre aprendizado nesse trabalho. Ganhar sempre
Não só reconhecimento e dinheiro, mas todo o momento se olha para dentro e descobre o novo
Dentro de si, dentro dos olhos que quem gosta do que viu e nos olhos de quem desaprovou tudo

Artistas são pessoas comuns que comem, dormem, sofrem e riem, mas os que apenas SE julgam ser
Costumam dizer que na vida basta beber e sofrer por amor - tendo esses nunca amado ninguém
Artistas que pintam, que atuam, que dançam, qualquer um deles
São tão grandes e tão mirrados como qualquer outro ser, de qualquer outro meio
Médicos, advogados, donas de casa e pais de família.
Todos precisam do que a vida e um trabalho deve oferecer - satisfação e retorno
Muito ou pouco. Não existe essa alegria em dizer que se vive de pão e água e se é feliz
Não vi os artistas passados que morreram de fome e se mataram por depressão verem beleza nisso
E esse que cantam essa alegria na fome e na miséria jamais passaram se quer perto de sofrer desse mal
E claro, jamais passaram perto de realmente serem de fato artistas. Brincam de ser e para eles já basta
Basta dizer que viram algumas peças, que já fizeram algumas, e claro, que sofrem do "mal da minoria"

Os artistas que vejo existem porque fazem
Trabalham e recebem, cedo ou tarde o reconhecimento que lhe é merecido
Como qualquer outro, estudam, buscam seu foco de vida, a satisfação de ganhar com o que faz
Não lhes basta cair de bar em bar chorando a vida gloriosa que nunca conseguiram ter
Pois eles tem ou logo terão o que fazem por onde
Não lhes contenta apenas esses mesmos se enganarem ser algo
Uns tantos que cobram do mundo reconhecimento que nunca mereceram ter, nunca estudaram por onde
Querem o topo e a sonhada vida invejada que esses acreditam existir
Não basta a eles viverem uma vida que lhes agrada, querem que todos lhe invejem
E isso para esses é finalmente ter atingido o foco. Hipócritas.
Nenhum desses vive de pão como dizem querer
Nenhum deles deseja realmente com tanto fervor atrasar seus aluguéis e não ter do que viver
Ninguém quer viver assim. Ninguém deve desejar viver assim.
Viver assim é aceitar o fracasso da fraqueza de então realmente não ter sido o que se enganou ser.


E se querem ser grandes e postos em memória pelos anos do belo trabalho que fizeram - Façam!
E se acreditam que a vida trabalhando em atuar é o que se vale viver - estudem para.
E se por ventura ainda se engana que viver em algo na arte é tão mais fácil e glorioso - Desista!


Ganhe pelo que faz
Mereça pelo que realmente trabalhou para ter e ser
E não se iluda sonhando que quando morrer será  lembrado pela eternidade
Talvez seus trabalhos sejam porque foram muito bem formados e então os darão o merecido crédito
Mas o artista em si, o criador um ser como outro qualquer, vai morrer e em dias o esquecerão



Todos sabemos o nome da obra e como ela se passou
Quase nunca sabemos do que o artista morreu, e se já morreu.

segunda-feira, abril 28

Veio como se pudesse deturpar tudo por onde passava
Perdido como minhas mãos envoltas pelo frio
Chegou como uma luz que cegava seus olhos, mas mesmo assim nunca aprendeu
Você ria da da chuva e eu esperava o voltar das ondas do mar
Nos encontramos lá, de uma forma inesperada
Um beijo frio, com água gelada caindo sobre nossos ombros
E nossos dias passaram a ser irreais
No entanto, a culpa não foi nossa

Entendemos o que poderia ser perdido
Entendemos o que ganhariamos nos perdendo
Você sabia o quanto eu queria ir
Eu soube o quanto você tentou

Enquanto você se banhava na água da chuva e eu me afundava nas águas de algum outro mar
Em um dia cinza e estático, como sempre fomos - um a cada ponta da vida
Então não podemos dizer para qual dos lugares a água levou nosso coração
Mas eu sempre o encontrava lá
Mesmo muito depois
Tanto tempo, de tantos dias, tantas vezes que perdiamos
Numa tarde cinza, mesmo longe do cheiro de terra e do gélido ar
 Quando eu olhava para dentro você estava lá.

quinta-feira, abril 17

Inteligên(ele)cia

É de uma forma dura, quase brutal que me interessa saber
E todos esses pensares, dos seus pesares, apesar de mal conheceres a ti
Gosto por suas coisas, suas escolhas e todos os teus enfins
Temo por sua negligência, da impaciência um dia chegar ao fim

Gosto pela forma que anda, como se equilibrasse o mundo em que pisa
A forma que fala, que olha e que se esquiva
Ávidos - seus olhos ávidos que gosto de ter
Que correm páginas, livros, paisagens nas pessoas que habitam dentro de você

Ele teima na razão que crer ter
Ele busca saber do que já sabe e o que não sabe quer entender
Ele chora e sorri como uma criança junto a mim, como se eu não fosse perceber

Porque foi tão repentino, tudo que nos fez acontecer
Porque foi tão verdade, a forma que nos fizemos conhecer
Por estar sendo sempre mais; em saber mais sobre tudo que lhe ensino e aprendo de você

sábado, abril 5

Quando disse

Ele se ajoelhou fraco e cansado na frente dela. Ela sentada recostada na cadeira, imóvel
Os olhos estavam tristes e marejados, ouvindo ele dizer:

-Você me faz sofrer desde o primeiro dia em que eu soube que você existia.
Tudo, desde então, tudo desde lá é frio, vazio e me amargura. Por que você faz isso comigo?
E todos os meus sonhos, as minhas vontades, as minhas ilusões, nada disso te faz pensar?
Você não sente culpa? Seu coração é tão vazio e gelado que você nunca ao menos se comoveu
pensando no quanto me fez sofrer, quantas as vezes? Ele a fitava com os olhos, nervoso e desesperado.
Ela continuara sentada, apenas olhando fixamente tudo o que saia da boca dele em um confissão
-
Infeliz! todas as vezes que não dormi imaginando estar com você ao meu lado.
Vezes que tudo o que eu lia e buscava conhecer era porque você estava dentro daquilo. Em tudo
Ah, quantas as vezes você esteve junto a mim dentro de minha imaginação infantil, comendo ao meu lado, viajando, brincando, sonhando, sorrindo... -Gritou agressivamente apontando-a -Alias, eu nunca te vi sorrindo realmente, você deve ser incapaz de um ato desses, é demais para uma pessoa de uma alma tão terrível quanto a sua. - Ela fez levemente um sinal de negação com a cabeça em um sorriso quase imperceptível, e ele baixou a voz, fraco. - E tudo que imaginei era pra ter sido real, mas você nunca permitiu, nunca me deu a mínima oportunidade de estar um tanto próximo de você.
Ah, como eu te odiei! Como odiei você ter me feito chorar para meus amigos, odiei você ter feito eu me dar ao desprazer de fazer outras pessoas gostarem de mim por terem pena do que eu passava, odiei pensar onde você estava e eu nunca soubera, e me fizera imaginar e pensar as piores coisas - Com quem estaria
Estava viva ou morta? Estava aqui ou do outro lado do mundo. Pensara ao menos uma vez em mim durante todo esse tempo? Eu sempre me perguntei tanto isso, se você alguma vez por tão pouco que fosse sentiu minha falta, lembrou do meu nome ao vê-lo ou ouvi-lo em outro lugar. Odiei, odiei tudo o que eu não sabia
Odiei tudo o que queria ter perto de mim e não estar, odiei você! Odiei tanto você.
Querendo sempre, a todo momento, todos os dias de Sol, todas as Luas, tudo o que era você
Te ver de perto, te ver chorar, sentir seu corpo, dedilhar seus cabelos, provar seu gosto, te enfeitar
Entrar em seu Céu, chorar sua mágoa, conhecer o que te faz sofrer, saber sua vida. Tudo de você
Descobrir onde você vivia, como eram seus dias, de onde viera, e onde queria estar.
Quase sem forças de tanto lhe abrir o peito em desabafar, ele segurou suas mãos e apertou-as como se não mais pudesse solta-las - São nos seus olhos que eu nunca consegui entrar, no seu corpo que nunca pude tocar e mais que tudo, acima disso, no seu peito que penso que nunca vou poder estar.
- Correu em seu rosto a mais dolorida lágrima de verdade - Mas eu te amo tanto, mesmo assim
Eu te amo tanto, sem nada ter podido, sem nada ter feito. Ainda assim.

Como se tudo pudesse ser dito em segundos, ele entendeu que tudo que ele sentia, o que havia
sofrido, perdido e chorado, era do conhecimento dela. Ela segurou as mãos dele contra seu peito e o olhou vigorosamente dentro de seu orgulho ofendido.
Aquele olhar e aquele momento nunca acabou.













segunda-feira, março 31

Ouro Puro

Era como se o Mar fosse capaz de inundar o mundo por completo
Era como se cada parte do meu velho coração fosse rasgado ao vento
Da terra toda que conheci - cada visão que tive foi azul

E uma vez entrei em águas que eram quentes e de lá nunca desejei sair
Cada vez que tivera nelas era como se não mais fosse possível outra vida existir
E ia me transformando em flores. Em ramas. Até sumir.

Foste, certa vez, uma muda que tinha ambição de se abrir - e uma árvore se tornar
Desejara uma vez parar de ser casulo e as asas poder mostrar
Quisera que o puro de cada momento não fosse desperdiçado no que não fosse amar

Eram rosas as nuvens que corriam quando eu podia lá estar
Eram brancas as minhas tardes, quando com a companhia daquilo eu conseguia ficar
Eram azuis minhas visões, de tudo que eu acreditava, podia e queria. Azul era meu enxergar

Era ouro a própria vida
Que de tanto se maldiz e muito se perde, só no fim será possível crer
Que numa vida toda, a cada tempo
Era puro ouro o tudo que existia em você

sexta-feira, março 28

Domingos

Avisem todos eles que a ultima coisa que eu ouvi foi um trompete chorar
Diga a todos que eu não estava mais triste quando soube que iria partir
Deixe claro ao mundo, a todos eles, que eu senti tão fundo então o nascer da minha alma

Todos os domingos eram tão longos, cansativos e desperdiçados
Os dias em que eu ficava olhando a garoa caindo lá fora esperando meu Sol iluminar - mas nunca
Foram-se todos. Todos os quais nem tive, os quais perdi sem me deixar ser
E os domingos levavam todas as sombras dos restos de vida

Decidi terminar tudo. Não me permitindo contar mais
As noites, as horas, as fases da Lua
E tudo que fazia parte de mim. Tudo o que me fez sofrer, querer, não ter. Não mais.

O tempo implacável, em uma vida instável
Os anjos que me diziam eu não mais pertencer. Brincavam nas nuvens como sempre era de ser
Sobre meu coração que sempre derretia em uma música antiga
E minha cabeça que a paz já não mais conhecia.

E logo serei abençoada com toda a graça de um anjo azul
Então diga a todos eles que meu dias sempre foram quentes como um nascer estelar
Então contem ao mundo que sempre habitei em um outro templo Solar.

domingo, março 23

A volta da Lua. Completa Galáxia Solar

E te queria por esse um dia, meu pequeno implorar
E vigiava todos os céus, todas as vidas. A cada partida que quisera dar
Podia eu, em todos os meus sonhos, pequenos ou improváveis, me agradar
Em cada pedaço de vida, em cada xícara de chá


Não saberia antes, como é díficil aprender andar
As quantas vezes choradas dentro do próprio quarto
Quantas as vezes querendo o que era desacordado
Buscando onde sempre pensara existir no topo, um planeta para repousar


Então pensar, se assim não fosse, a minha curta vida
Então olhar, se possível é, todas as minhas idas
Em querer sempre ficar de pé


E busco o todo que me completa, nas grandes coisas que só meu Eu consegue ver
Temo os dias, que numa agonia desperta
Mas nunca as noites - encontro nelas o meu ser.

quinta-feira, março 20

Engolido

Ele queria viver na Lua, mas foi engolido

Pensava poder desperdiçar seu coração sem que soubesse ter um fim
Resolveu um cálculo, calou a própria boca
Carregava o peso do mundo em uma corda pendurada à seu rim
Engoliu todas as lágrimas que não conseguia dizer serem poucas.
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Mexia sua taça de vinho vagarosamente, como quem entende o que faz
Procurava razões para entender a vida fora da terra
Queria conhecer tudo o que fazia parte dela - Ela a terra, a sua menina, ela - a sua taça já vazia
Era preso por uma gaiola que há tanto se corrompia
Olhava fixamente para o copo d´água, como quem quer fazer algo evaporar
Foi engolido por uma galáxia que vinha sempre se alimentar.
6


Tinha 7 facas cravadas nas costas
Uma tomada no lugar do rosto
Dizia que tudo do que se alimentava já não possuia mais gosto
Sua sombra era menor do que sua própria matéria
Por mais que trabalhasse e tivesse na vida,  tudo lhe era miséria
Sua lira era ausente, seu corpo já não mais ardente, seus olhos não mais estavam presentes
Fora engolido pela vida que ele próprio se deixou fazer dependente
7

sexta-feira, março 14

Da Bússola

Eu estava perdida no Mar
Boiando fria, branca e gélida
Ele me puxou pela mão em meio as ondas tão fortes e negras
Me pegou como uma pesca bem feita e me beijou a boca
Tirou minha alma como quem tem fome há tanto
No seu barco fantasma nada havia de muito precisar se levar
Uma bússola, um litro de bebida, uma âncora que seria capaz de afundar o mar
A corrente se fazia intensa, o seu barco a pesar
De algo dali ele precisaria se livrar para que seu barco então conseguisse novamente ver terra
Não podia esperar dele nenhum ato óbvio, sensato - ele não é assim
Disse que me amava e tão logo junto a mim iria se encontrar
Engoliu a bússola, se banhou com o rum e amarrou a âncora a mim
Apertou-me tão forte contra seu próprio peito
Me jogou de volta ao mar.

"Ana" - Por Talles

Ana que se faz de tonta
Ana que a todos encanta
Uma rima pelo sorriso dela
Um colar persa, uma saudade
Ou uma canção no escuro
Relembra uma tristeza
Fala de tudo com frieza
Pense nele mas não se alvoreça
Ana do coração pagão
Quadril com os ritmos de um violão ou de uma valsa discreta
Coração poeta
Lembrança indiscreta do mais doce dia, que te assombra e te alucina
Olha Ana , teu peito ta cheio seja do doce ou do amargo
Seja minha pequena de coração antigo
Ana que atua e faz da vida sua Lua, faz dos sonhos um mar de fel
E renasce a cada brilhar
Ana, menina da varanda
Espera ele passar, mas não vá se cansar
Não espere o dia raiar
Ana que a todos ama
Ana de nome sonoro
Ana de comum e de gentil
Ana e seus adornos, em livros de filosofia
Ultrapassa a linha tênue entre você e a fantasia


Talles Krum

sexta-feira, fevereiro 14

Conto - Ela Se Tornou o que Sempre Foi, o Ar.

Há muitos dias nós todos nos preocupavamos em saber como ela estava
Não aparecia há dias, não dava noticias ao resto
Para quem nunca faltara em um concreto
Para quem sempre dedicou a vida por completa à arte, algo de estranho deveria de ser
Eu há muito tempo, quase sete anos, sempre fiz toda a parte de ajuda-la em tudo
No seu dia a dia, para acordar, para trabalhar, comer, dormir, comprar. Eu estava lá
Ajudava ela em tudo que queria, que precisava, que sonhava e buscava ter
Era seu "faço o que posso e não posso" pessoal. Mas nunca reclamei
Nada me dava mais prazer na vida do que servi-la em toda e qualquer vontade

De um certo tempo pra lá, conto por volta de 8 meses, eu notava que a cada dia que terminava
Ela se mostrava menos animada, com menos vigor, com pouca luz
Mas mesmo assim não parou por qualquer instante de ser alguém de quem
Quando se estava perto nos fazia sentir  afrontados pela sua grandiosidade contida
Cada qual que fosse, sempre que a via de perto sentia sua grande presença e queria te-la
Em vão
Ela estava a se deteriorar.


Comecei a trabalhar para ela por volta de oito anos atrás, e no começo me era muito estranho
Ela nunca fora uma mulher comum, isso, qualquer que seja o qual a conheceu sabe bem disso
Sempre gostei das artes e quando recebi de seu próprio interesse poder ficar junto dela foi...
Tinha apenas 21 anos, estava em um dia frio bebendo um expresso em uma lanchonete decaída
Pensava eu no que iria fazer da minha vida, tinha todos os planos e nenhum modo de concretizar
Andava péssimo de muitos meses até lá, apenas até aquele dia - A vi.
Ela entrou no local, um tanto úmida pela chuva. Sentou e tirou a blusa de cima
Colocou ao seu lado. A garçonete parou ao lado dela e anotou o pedido
Ela não olhava para a frente, olhava apenas para si mesma, como se quisesse ver seu interior
Sempre que lembro dessa visão tenho a certeza de que ela queria ver por certo seu corpo, e só.
O pedido dela foi leite quente com açucar. Fervendo. Um pedaço de bolo
Futuramente eu os iria preparar, mas ainda não sabia nada disso.
Não conseguia parar de olhar ali a minha frente; sentada; quieta e bebendo vagarosamente
Em sua grande percepção ela notou que eu a fitava com os olhos poucos metros dali
Sem fazer o mínimo gesto de espanto, se levantou calma, veio até minha mesa
- Você gosta de mim?
Oito milhões de medos e felicidades me passaram ao corpo em segundos, e respondi tão criança
- Muito, mas desculpe se lhe incomodei olhando.
Seu rosto era perfeitamente linear, era como olhar para o céu noturno
Completamente limpo, puro e vazio
- Quero que você more comigo. Preciso. Acha que pode fazer alguma util coisa por mim?
Perdi meu tempo em segundos tentando me apresentar como um admirador de arte para ela
Ela não tinha qualquer interesse em me ouvir. Colocou uma nota sobre a minha mesa
Num gesto de pagar o que eu havia tomado, e como um convite a segui-la a partir dali
A partir daquele dia. Daquela vida futura. Meu EU que conhecia acabou quando sai de lá.


-


Anos ao seu lado, morando com ela. Tudo do todo que havia sonhado para mim tinha mudado
Nada eu queria ser e ter mais do que estar ali
Sempre com ela, ajudando no que ela precisasse. Era seu, de todo.
Virava as noites passando seus textos a limpo, corrigindo faltas do que achava precisar
~Logo ela me dizia que era pra ser como estava lá, e eu notava que era mesmo melhor.
Fazia seu almoço, comprava suas necessidades da casa, arrumava o que fosse - Vivia para ela.
Em troca tinha um salário que não posso negar ser bem pago
Pórem, não era isso que me fazia ali morar, nem o que me estimulava trabalhar.
Era o ali, o assisti-la. Ve-la ensaiar, escrever, dançar, e muitas, muitas vezes, chorar.
Creio que desde o dia que estive com ela de primeira, em todos ela chorou.
Nunca soubera do que realmente era. Mas sempre soube que alguém lhe faltava no coração.

Por tantos anos conviver com ela ali, sempre me foi sem mostrado, sem esforço de esconder
Que seus hábitos de vida não eram lá nem um pouco saudáveis.
Trabalhava muito, bebia demais e nunca dormia. Ao menos não por completo. Um sono puro.
Via o seu sofrimento, apesar dele ser de grande competência na arte, aflorar a cada dia
E pelo final desses dias começaram se fazer presentes a todo instante.
Em certos momentos passados, conversando com ela nós riamos um tanto. Ela, nunca muito.
Comiamos muito bem até nos encher, discutiamos alguns fatos do mundo artistico
Certas vezes até em viagens que a acompanhava, faziamos fotos memoráveis
Ela sempre fotografou o Céu.
Quando o fazia, pudia notar em seus olhos que lá ela queria vagar.

Porém, de alguns meses pra cá sua presença em sua própria casa estava quase invisível
Ela acordava quando já era quase tarde, comia sem quase falar nada
Escrevia muito a todo tempo e quase mais nada me deixava ler. Escrevia e os rasgava
Sua tristeza começou a aumentar a cada noite.
Eu a via chorar baixo do lado de fora do alto da varanda. Algo mais forte estava lhe acontecendo
Começou a dormir muito, horas e horas
E quando eu ia lhe acordar, ela se virava para o outro lado sem querer falar
Eu fechava as cortinas porque ela me pedia não querer luz no quarto.
Deixava algo ao seu lado para depois quando quiser se alimentar.
Sempre que voltava a comida ainda estava lá. Pouco mexida ou intacta.
Era um grande motivo para eu me preocupar.
Não conhecia quase ninguém tão próximo dela.
Uns amigos famosos de trabalho e uma amiga unica amiga de infância, Julia.
Quando liguei para ela contando do que estava acontecendo, ela ficou alguns segundos calada

- É... até que demorou para isso começar a acontecer. Mas já era de se esperar, Não tente convence-la de melhorar ou sair disso, ela não vai. Aceite e a ajude no que precisar. - Desligou

Não entendi o porque nem do que ela falava, apenas tive a certeza então de que não poderia fazer muita coisa, apenas continuar ao seu lado o tempo que fosse de me restar.

Numa manhã de sexta-feira, por volta das 6am sai para comprar frutas e outras coisas
Estava chovendo muito, e um vento que faziam telhados levantar.
Coloquei meu sobretudo e sai em meio o temporal, fiz as compras e me atrasei muito por conta do volume de água que os céu mandava para baixo.
Quando cheguei, coloquei as sacolas umidas no chão, enfiei minha mão molhada dentro do bolso e encontrei a chave gelada. Abri a maçaneta e peguei as sacolas todas.
Coloquei-as em cima da mesa e fui até o quarto falar com ela para ir almoçar; Ela não estava lá
Vi pelo banheiro, a sala, a área e não a encontrei.
O vento estava muito frio e forte dentro do apartamento
Percebi que a varanda estava com a porta de vidro por completa aberta
Ela estava deitada no sofá do lado de fora da lá - Linda, tranquila e fria
Sua vida tinha acabado ali;
Não fora por se matar, algo tinha nela acabado antes disso
Peguei seu corpo leve, mesmo que sem vida e levei para dentro. Observei ali por muito tempo
Sabia que em breve nunca mais iria com ela morar, nem mais a olhar.


Seu enterro foi no mesmo dia, o chuva era completamente intensa e devastadora
As gostas nos faziam machucar mesmo por cima das roupas
Alguns amigos, alguns parentes distantes, alguns amantes.
Muitos choraram, poucos realmente estavam a se importar.
A tarde começou a terminar e o Céu se fez escurecer. Foram todos embora
A caixa onde ela estava era forte e escura, e agora, para sempre ela moraria lá
Então eu a vi ali pela ultima vez.


-


Ninguém reclamara seus pertences
Ninguém viera buscar fotos ou lembranças de um passado
Algumas notas sobre sua arte e morte sairam em jornais, nada notável
Ninguém me procurou para saber quem era então o homem que junto dela sempre estava.

Eu continuei vivendo ali, anos e anos. Com todas as suas coisas, com sua sala cheia de artes
Seu quarto grande e vazio. Suas roupas perfumadas como ela sempre havia de estar



Não havia o porque nem como eu querer ali deixar
Ela sempre vivera lá

sexta-feira, fevereiro 7

Mal Estar

Tenho odiado tudo que sou
Que me permito ser
Que sei ser e que decerto continuarei sendo
Tenho renegado a tudo que queria ter
Ao que queria saber
O que queria aprender
Fiz e não valeu
Tenho pesado o fardo infíndavelmente, não mais suportando meu ser
Não mais me agradando em ver
Sem saber o por que.
Tenho chorado gritando todos os dias
Nas noites não dormidas - No amanhecer entorpecida
Pelo sono, pela agonia, pela falta do ter
Queria então voar, não preciar mais me olhar
Queria acreditar no que um dia se iludiu a acreditar - Outra, não este Eu
Meu mal estar da alma
De não criar, não suportar, não se aguentar mais
Ao ponto de fazer o pior que se pode a qualquer um fazer
Aceitar

Fechar meus olhos então, pela ultima vez.

terça-feira, fevereiro 4

Conto - Fumaça Rosada Reflexo de Meu Espelho

  Eu havia perdido tudo em minha vida - Meu dinheiro, meu emprego, meus amigos, minha alegria iludida
Mas nenhuma perda foi tão insuportavelmente dolorida como quando a vi estirada no chão da rua
Dois malditos desgraçados haviam assaltado o ser que mais amei
Não bastasse o ato, presentearam seu corpo com dois tiros, um nas costas e outro no pescoço
Foram embora em uma moto roubada com os pertences arrancados dela e a deixaram lá
Miseravelmente sozinha e morta no chão, às 23h15 de uma quarta-feira fria.

Sofri como um cão deixado pelos donos que se vê perdido em uma estrada
Só. Com dor.
Um buraco gigantesco dentro de meu peito não aguentava a falta que ela me fazia
Meu anjinho, que por tão pouco tempo consegui amar, tiraram sua vida numa covardia desumana
Não era possível tirar a imagem que vi dela sem vida naquela rua. Eu a havia perdido pra sempre.

Desde o dia que a conheci eu amei de primeiro instante
Ela era viva, branca, de olhos que se faziam tão claros que ao Sol mal os podia ver
E quando ela me abraçava era como se todos os problemas estúpidos da minha de vida, sumissem.
Eram noites de muito amor
Os minutos pareciam horas quando eu a via acordando e me olhando com seu olhar tão distante
E tudo nela, seus dias; seus livros; seu tom de voz; o som da risada e o choro escondido
Tudo que faziamos, tudo, era tão fora do normal, tão mais real do que minha realidade ruim
Eu que era um cachorro sujo e não tinha mais nenhuma esperança de que nada de bom viria
Ela, a menina tinha salvado minha alma já há tanto esquecida de um lugar que eu não sabia mais sair
E me fez ama-la tanto, tanto. E mal sabia que em pouco, dois meses apenas, eu a veria partir.
Para sempre.

-

Passaram-se 84 dias da minha vida sem que eu visse o rosto que eu tanto sentia falta
Minha alma se corroia num vazio eterno
Um desespero me fazia acordar tantas e tantas vezes durante a noite
Sonhando que a via morta, gritando e sozinha.
Doia de fome, mas não conseguia comer. Doia meu corpo a falta do descanso.
Mas nada doia mais do que aquele não parar de pensar, e chorar, chorar...
Os piores dias da vida de alguém que perdeu a unica coisa que em 24 anos havia valido a pena.

Certa tarde, vindo do trabalho que há poucos dias havia voltado
Cheguei exausto do dia terrível que tivera com pensamento sempre a vagar
A chuva se fazia drasticamente, e cai mais fundo que ela em um sono que há muito precisava
Não vi mais nada.


>>>Dentro dele, repousando do jeito que realmente precisava
Acordei devagar e senti que não estava sozinho
O quarto não estava mais em um mofar esverdeado da minha tristeza de muito
Algo ali fez no momento em que abri os olhos sentir bem
Andei meu quarto rapidamente com os olhos, ainda deitado e coberto, e a vi
Sentada na cadeira, de frente para meu espelho
Quando olhei, ela, notando que eu perplexo fitava-a com os olhos, virou seu rosto sorridente para mim:

- Você está dormindo há mais de dez horas, não acha bom comer alguma coisa?

Não conseguia mexer um músculo do meu corpo, nada. Ela estava ali, bem a minha frente
Pegou um grampo que havia ali na mesa e colocou no cabelo, arrumando de um jeito que a fazia brilhar

- Eu fiquei preocupada com você. Tem tantos dias que você não dorme, não come direito
achei que precisava fazer você descansar, deu certo, faz horas que você dorme tranquilamente.

- Como você... - Eu não conseguia completar as frases, ela estava morta, e mesmo assim frente aos meus olhos. - Como você está aqui?

Continuou em uma tranquilidade serena olhar para o espelho se enxergando com surpresa
- Eu acho que desapareci por alguns dias, anos. Não sei, não consigo mais contar o tempo desde o que me aconteceu. Todos os dias são noites, e são tarde. Dias. Mas do breve dia em que perdi minha vida, pouco depois já me encontrei vagando aqui em seu quarto, infelizmente te vendo chorar e sofrer a todo momento - olhou para mim tranquilamente. - E não entendia o por que daquilo, só então depois de algum tempo entendi que havia morrido, e que você sofria por isso.

Sentei na cama me encostando na parede das minhas costas, ainda sem conseguir pensar direito. 
Ela se levantou da cadeira que estava recostada na mesa e caminhou devagar até a cama, sentou ao meu lado, me olhando tão fundo nos olhos. Eu não conseguia sentir sua matéria, mas sua presença estava ali.

-  Não consigo lembrar de como aconteceu, meu amor. Só lembro de ter visto aqueles dois homens, de ter gritado. E um tempo depois despertei aqui dentro do seu quarto, sem sentir dor nem alegria.
Não entendia o que estava acontecendo.

Tentei pegar em sua mão, segurei-a firme como se nada fosse possível de me fazer deixa-la ir
- Por que só agora você apareceu pra mim? Tem visto o quanto sofro e mal vivo desde o dia?

Seus olhos deitaram próximos aos meus, e senti a aura rosada e pura que a deixava envolta
- Vejo. Eu não sei como aparecer ou sumir. Acontece. Te vejo todos os dias, vejo a lua e o Sol aparecerem todos esses tempos frente a sua janela. Vejo que no claro você não faz questão de estar, e fecha as cortinas pela manhã, só a luz da Lua consigo enxergar. Não acho que te faça bem isso.

- Eu não aceito o brilho feliz do dia dentro de onde vivo, não tenho mais o porque; A lua sim
A lua é tão triste, vazia - mas clareia. É a unica que preciso e não sinto vergonha de deixar ver como vivo.

Sorriu rapidamente e deitou ainda mais próxima de mim
- Algumas vezes despertei dentro do quarto de minha mãe; Ela tem sofrido tanto, olhando fotos
lendo papéis, sentindo perfume nas roupas. A vejo morrendo em alma a cada dia que termina
Olhou para o teto quase sem expressão  -Porem, não consigo mais sentir nada ao ve-la
Deveria ficar tão triste em saber dela sofrer assim, mas não. Sei que algo de errado existe, mas não sei mais chorar, nem sofrer, infelizmente também não mais sei estar feliz.

Não conseguia sentir, por mais que ela estivesse próxima, sentir a vida que ela havia perdido
- Como é?
- Como é o que?
- Morrer - o outro lado?
- Não existe outro lado, apenas esse.
- Não existe? Nada?
- Nada. Ao menos nunca vi.

Curiosamente toda minha fé ou falta dela tiveram um embate mortal com o que ela acabara de dizer
- Você está morta, meu amor. Para onde foi? Eu entrei em um surto absoluto em tantar imaginar para onde você tinha ido, se algum dia iria ve-la novamente. E você me diz que...nada?

- Nada. Desde o acontecido tenho despertado e vagado dia e noite. Vezes aqui, vezes em meu quarto.
Vezes na rua vendo a garoa ou crianças brincar. Dia e noite não fazem mais importancia. Não durmo, não como, não sinto frio. É estranho, poderia dizer que triste, mas não, pois não consigo sentir assim.

Não conseguia entender como aquilo acontecia, mas era tanto a perguntar
- E os outros?
- ...Outros?
- Outras pessoas que morrem, você as vê? Elas existem em algum lugar fora do nosso?

Ela sorriu gentilmente, como de costume em sua vida, e agora morte
- Não, nada existe. O que vejo são todos que vivem, todos meus amigos, minha mãe, irmão, você;
Nunca vi nem fui levada a algo fora. Se existe não fui convidada ainda. O que tenho é existir onde sempre conheci. Vezes ou outra "acordo" em algum lugar que há muito não ia,
e sinto algo que poderia dizer ser bom, mas também não sei mais sentir.
Vejo você mais que qualquer um, e gosto de assistir sua vida, por agora não mais poder tirar proveito das coisas materiais mas ainda te amar, sinto algo que decerto deve ser bom, quando o vejo fazer coisas que eu gostaria.


Puxei seu corpo para perto do meu sem o mínimo medo ou receio do que poderia ser
- 
Você está perto de mim todo esse tempo e sozinha. Não quero! Se não é mais de sua proeza existir e viver o dia, ao menos se faça mais presente para mim, o que outros vão dizer ou pensar não me importa. Saber que você habita perto de mim, aqui, já vale minha vida. Não suma de mim novamente, não se perca em meio a essa morte que a fez levar, meu amor.

Puxou minhas mãos para sua cintura deitada a minha frente e as colocou por cima de seu corpo, nem quente nem frio
- Não existo mais como de costume é, mas estou aqui. Creio que para um outro plano, lado, como quer que chamem, eu nunca irei. A morte é isso; me vi sumir e de repente, despertei sentada na sua mesa, olhando livros que você abandonou de ler. Assim.
Aprendi então a aceitar, mesmo que difícil demais nos primeiros tempos para entender o que havia acontecido. Hoje sei. Não tenho pressa, nada mais posso querer esperar, o que tenho existe só ao meu ver, e para você – sonhar.

Com um medo repentino perguntei
- Então isso é só um sonho? Não há mais chances certas de te ver fora disso? Ah, miséria de ilusão repentina!

Se afastou delicadamente, como costumava ser, sentou a minha frente, me olhando tão doce:
- Não, não é sonho, mas é preciso que você acorde agora para que em sua cabeça mesmo não ache estar entrando em paranoia. Não é mentira nem sonho, estou. Mas preciso que você viva, verdadeiramente. Minha única ocupação nesse eterno existir sem existir agora é ver o dia de quem gosto acontecer, já que nada mais posso. Como é quem mais quis, e mal pude ter - Seja!
Um dia você morrerá também - triste de minha eternidade! Como lhe disse, nenhum dos que já foram posso ver, por isso - exista! Ao contrário do que se pensa, a única forma de estarmos juntos é ainda aqui, o dia que for também não saberei mais onde ou como ter. Amo-te, mesmo sem mais poder sentir.




Não sei se passaram meses, dias ou apenas horas realmente,  mas acordei no mesmo lugar em que deitei da hora que cheguei desse dia do trabalho. Tudo tinha sido real, morto numa vida que foi.
Ela não estava mais ali - nem cheiro, nem presença. Nada. Sabia que precisaria então viver, o mais e melhor para que ela pudesse então poder também ser.


sábado, fevereiro 1

Fim de Tarde

Ele é um fim de tarde
Aqueles poucos e tão perceptíveis momentos entre o fim do dia e o escuro completo
Fim da tarde, começo da noite
Te conheci nela, e nela, a noite completa, ficamos juntos
Por um átimo sentimos um tão forte transportar de verdade de ambos
E naqueles segundos que pudemos nos ver, roubamos o mal que carregavamos há tanto
Passando em uma corrente junta o liberar da dor que estávamos sentindo
Por outras coisas, por outros tempos.
E você é assim, novo para mim; O que sempre achei que não existisse fora do Eu
Vai e vem. Fala e sai. Diz o que precisa e tão logo se esvai.
Eu sempre fui assim...
Hoje, ver e saber que também você em sua existência vive e pensa assim
Acho, de alguma forma metaforica, o tanto mal que fiz a outros tem se materializado no que é você
Um ser que se criou da muita fumaça ruim que fiz fazer todos esses anos e anos
Existe enfim, esse que é tão igual a mim
Que mesmo que, em sua repulsa pelo todo que cerca o que vive aqui, sabe saber de mim
E desgosta o dia que existem, só sabemos ser e viver a noite
O encerrar do dia, se fez noite. Nela, e só nela, acho que sabemos sair do que temos fingido ser
Viver e ser, o que encontrou em mim - eu em você.
Fim de tarde, estou a te conhecer.
E viver. Só.

terça-feira, janeiro 7

Assuntos Pendentes


Minha alma quente
De saudade que cai
Já não mais ascende
No bem que me faz

É de um corpo que entende
A cabeça doente
Seu amor imprudente 
No gerar dependentes 
Em meus pés tão dormentes
Dessas noites ardentes
Um olhar dizente
De um desejo latente que minha vontade faz.
.
Anos paciente
Em planetas regentes
Suas mãos trementes 
Uma cama confidente
Em minha pele quente
Uma paixão decadente 
Acabou brevemente
Uma pausa consequente
Por precisar esperar.


Eternamente