domingo, julho 28

Xibalba

Da seiva branca vagarosamente vem. Imperceptível.
Da pálida pele quase sem reflexo, de tons de rosas. Trás a vida.
Eternamente.

O todo, de tudo nunca se perderá.
O que se sente, o que pensou, quem um dia viu; e só um dia. Ficará.
 Sempre.

O que é forte de verdade não há cimento que possa concretizar
Que tem raiz, em um ano ou em tantos, um buraco abrirá.
Uma árvore da vida. Leva a paz e deixa o que precisa ficar.

E não a quem possa impedir, tamanha é a vontade de precisar nascer
A folha, uma qualquer, seja onde for; logo se fará ver.

Xibalba - Tão breve, tão grande sua vida. Se faça florescer.

quinta-feira, julho 25

Estrela da Manhã

Estrela da manhã
Perseguindo, vai, sumindo na luz cinza azulada tão clara e fria.
As horas demoradas de dentro do corpo se passaram. Devagar mais uma noite.

Na chuva da minha vida, tão sem intervalos e de vãos tão grandes
Sinto que o mundo pode ruir a qualquer momento. E não vou ter ido ainda.
Das mentiras, do que vi, do que prometi. Nunca sai nem permanece no escuro
Sempre ao meio. Meia luz - meia sombra.
E se possível voar sem asas é, temo em ter.
Som. De todo ouço. Do Mar, do dia, das vozes. Da luz.
Caminhando com calma. Transbordando sem poder cantar. Nem sempre. Só quando.

E não me acalmo.
Iludo
Me iludo
Desfaço
Não posso. Quero. Não sempre.

E quando cai deste mundo, ficaram algumas perguntas no ar
Quantas vezes dormi, amei, me vi.
No Sol.

Estrela da manhã. Sei que está, não mais vejo e sei.
Se faz esconder, me anseio chegar. Perseguindo.
No som da cor da luz caindo em reflexos dourados dentro de cada gota de água quente.
Não só por isso, talvez eu iria embora daqui por ti.

segunda-feira, julho 22

Diálogo da distância - Mutações.

Em cena de sombra - Dois bancos - Duas luzes - Duas pessoas:



- Por que você é assim? Faz isso; Some, desaparece. Acaba comigo.

Eu nunca sei quando e se você vai voltar. Se vai.

- E me aceita.

- Você sempre volta, mas sempre que se vai, some, os dias passam, eu fico pensando se dessa vez vai ser pra sempre. E fico sempre a esperar o dia de te ouvir voltar. Me mortifico. É sempre tão pouco, tão triste.

- Eu não consigo pensar minha vida sem a certeza de que você ama meu não estar. É tão estúpido, egoísta e doentio. Mas eu me sinto bem, feliz nessa tristeza. Triste por vezes em saber o quanto isso te machuca. Feliz por ter certeza que de longe, sem saber de mim, você me tem. Pensa em mim.
Eu levo meus dias tão longos e sofridos. Melancólicos. Mas durmo e acordo bem, porque sei que você é meu. Único.

- Eu queria te ter perto, te vendo a cada pequeno momento. Todos os dias, minutos, mutações!
Queria sentir o peso dos teus olhos abrirem pela manhã. O gosto da tua boca depois de cada chá. O tato do seu corpo depois de te ver queimar.
Queria ver seus cabelos refletindo ao Sol, quando o dia se faz clarear. E sua tristeza de criança quando a chuva cai sem medo de te machucar.
Saber que você está ali. Sempre. Mas você é longe, distante.
Eu te queria tanto.

- Eu sei bem de cada vão pedaço que falta no teu peito meu amor. Eu.
Sei que realmente te dói o que faço quando faço. Me mata.
Mas pense, entenda. Eu te preciso mais do que sei saber. Juro e não consigo pensar que um dia passe pela sua cabeça você me esquecer...
- Eu nunca, como diz uma coisa dessa. De onde tem a coragem?

- Eu sei, se sei... Por isso note, meu amor. O que amamos é a ausência.
A falta do ter.
É um querer tão grande, exagerado. Imaginativo!
Mas tem nos valido a vida. Vale todas as horas de nossos dias.
- Vale meu desejar.
- Vale meu viver.

- Eu te procuro tanto, te vasculho nos meus sonhos, uma mísera palavra que eu quiser ouvir... Quisera saber... Não sei.
Não mais.

- Sabe de mim, e mesmo assim, me quer tanto, mas sempre longe.
- De qualquer jeito.

- Não me peça junto de ti ficar. Não me prenda. Não ouse tentar de perto me amar.
Eu te amo tanto, querido. Longe de ti, sempre ficar.
O que for perto, em raros momentos, vai ser um eternizar.

- Sempre, pra sempre.
- Distante. Tão longe. Sempre a promessa de te ver em meu pensar. Passo os dias te procurando..
- Sem achar
- Sem achar
- Sem te achar
- Sem me achar

Ambos: Pra sempre.

domingo, julho 21

Não amar. Desamar.

Uma vez me disse ter visto sempre o Céu chover
Não sei mais.

Era de costume perder toda a noção do que existia fora daquela visão da garoa caindo
A luz que a refletia, como se fosse queimar. Mas não.
Era você do outro lado do mundo de dia, e a noite que aqui se fazia.
Também não mais.

Eram os dias esperados
As manhãs bem acordadas
As tardes em que dormia
As noites de trabalho
Em madrugadas de agonia.

A chuva começa a fechar, visão a embaçar.
Não ver, não ter. Esperar.

Eu não sabia do seu mundo, como era ter essa idade de tanto se desprezar
Agora me acontece, vejo o que via cair e só agora sei como enxergar.
Tarde. Cedo. Na hora em que não sei começar.

Talvez os fios dos postes molhem com a água da chuva e queimem
Talvez a luz acabe aqui e me faça parar
Talvez, talvez, eu não sei mais o que sinto quando continuo a olhar.

quinta-feira, julho 11

Mais uma vez.

  Vi o sangue correr pelo canta direito da minha boca
Achei que iria morrer ali. Uma dor tão insuportável se fazia dentro de mim
O mal estar. Queria me sentir bem, de pé. Não queria está ali.
.
Sempre estranho é melhorar, de alguns tempos que fazem do seu corpo uma casa do peso
Quando a dor começa a passar, a calma e o sereno começam a voltar
É sempre estranho o sentir de volta, o bem, o poder voltar caminhar.

Eu me rendi ao que eu fazia jorrar para fora mim;
E coloquei sem receio de arrependimentos palavras enfim que tinha achado que só diria no fim.
Bobagem. Não machucou tanto assim.
O que estava doendo era real. Físico.

Assim, penso nas crianças que sentem tamanha dor
- e não vêem na vida um anjo de branco vindo para ajudar.
Vejo o medo que tenho quando horas de dor começam me fazer chorar.
Rezo e tenho a certeza de que aquele Ser está por mim, me faz viver.
Olhei minhas mãos, minhas garrafas d'água, o que eu podia precisar e comprar. Podia ter.
Melhorei. Mais uma vez.