sexta-feira, outubro 3

Poente

    Quando estou abaixo do Sol vestida com um pano leve e solto
Sinto cada centímetro de alma ser aquecida - parte a parte
Me parece que todos os problemas de minha vida são inexistentes
Nada me preocupa, nada me pesa, nada mais me importa.
Nada além do Eu ali e só ali. Ali. Só.

O mal estar que sinto e que me acompanha a cada passo, noite pós noite
Já não é mais possível me deixar. Sem isso não ser mais ser eu.
Pois sei, não sou o que realmente sou diferente de ser assim.
Nunca existi diferente do que sou.
E quando me pego lembrando de todas as coisas que já quis ser e ter num passado
Nenhum mais desses desejos existem em mim. Nenhum deles me impulsiona sair daqui.
Não sou o que anos, tantos anos me enganei ser - Eu, um ser feliz.

Minha cabeça queima como se fosse uma brasa já quase totalmente apagada
Mas ainda como uma brasa, queima e se faz doer
Quente e queimando lá existe.

Todas minhas noites de sono que duram horas e horas seguidas, são as noites bem dormidas
Quando com ele estou, sou tão feliz. Mas me engano em achar ser.
Como tudo é algo que terá fim.
Nas noites que passo em claro, são horas sem fim. O dia parece nunca enfim clarear.
Sou eu em mim.

Minha xícara de chá. posta no meio do meu jardim espera por mim
E lá ouço os pássaros cantarem. Fim de tarde de Sol poente esquentando a mim.
Bebo da xícara, sinto tanto falta dele. Choro como se lágrimas pudessem levar o que dói aqui.

Bem por dias, outros desolados. Mas nunca tão infeliz ou feliz.
Vivo.
Um ser mal completado.