sábado, abril 5

Quando disse

Ele se ajoelhou fraco e cansado na frente dela. Ela sentada recostada na cadeira, imóvel
Os olhos estavam tristes e marejados, ouvindo ele dizer:

-Você me faz sofrer desde o primeiro dia em que eu soube que você existia.
Tudo, desde então, tudo desde lá é frio, vazio e me amargura. Por que você faz isso comigo?
E todos os meus sonhos, as minhas vontades, as minhas ilusões, nada disso te faz pensar?
Você não sente culpa? Seu coração é tão vazio e gelado que você nunca ao menos se comoveu
pensando no quanto me fez sofrer, quantas as vezes? Ele a fitava com os olhos, nervoso e desesperado.
Ela continuara sentada, apenas olhando fixamente tudo o que saia da boca dele em um confissão
-
Infeliz! todas as vezes que não dormi imaginando estar com você ao meu lado.
Vezes que tudo o que eu lia e buscava conhecer era porque você estava dentro daquilo. Em tudo
Ah, quantas as vezes você esteve junto a mim dentro de minha imaginação infantil, comendo ao meu lado, viajando, brincando, sonhando, sorrindo... -Gritou agressivamente apontando-a -Alias, eu nunca te vi sorrindo realmente, você deve ser incapaz de um ato desses, é demais para uma pessoa de uma alma tão terrível quanto a sua. - Ela fez levemente um sinal de negação com a cabeça em um sorriso quase imperceptível, e ele baixou a voz, fraco. - E tudo que imaginei era pra ter sido real, mas você nunca permitiu, nunca me deu a mínima oportunidade de estar um tanto próximo de você.
Ah, como eu te odiei! Como odiei você ter me feito chorar para meus amigos, odiei você ter feito eu me dar ao desprazer de fazer outras pessoas gostarem de mim por terem pena do que eu passava, odiei pensar onde você estava e eu nunca soubera, e me fizera imaginar e pensar as piores coisas - Com quem estaria
Estava viva ou morta? Estava aqui ou do outro lado do mundo. Pensara ao menos uma vez em mim durante todo esse tempo? Eu sempre me perguntei tanto isso, se você alguma vez por tão pouco que fosse sentiu minha falta, lembrou do meu nome ao vê-lo ou ouvi-lo em outro lugar. Odiei, odiei tudo o que eu não sabia
Odiei tudo o que queria ter perto de mim e não estar, odiei você! Odiei tanto você.
Querendo sempre, a todo momento, todos os dias de Sol, todas as Luas, tudo o que era você
Te ver de perto, te ver chorar, sentir seu corpo, dedilhar seus cabelos, provar seu gosto, te enfeitar
Entrar em seu Céu, chorar sua mágoa, conhecer o que te faz sofrer, saber sua vida. Tudo de você
Descobrir onde você vivia, como eram seus dias, de onde viera, e onde queria estar.
Quase sem forças de tanto lhe abrir o peito em desabafar, ele segurou suas mãos e apertou-as como se não mais pudesse solta-las - São nos seus olhos que eu nunca consegui entrar, no seu corpo que nunca pude tocar e mais que tudo, acima disso, no seu peito que penso que nunca vou poder estar.
- Correu em seu rosto a mais dolorida lágrima de verdade - Mas eu te amo tanto, mesmo assim
Eu te amo tanto, sem nada ter podido, sem nada ter feito. Ainda assim.

Como se tudo pudesse ser dito em segundos, ele entendeu que tudo que ele sentia, o que havia
sofrido, perdido e chorado, era do conhecimento dela. Ela segurou as mãos dele contra seu peito e o olhou vigorosamente dentro de seu orgulho ofendido.
Aquele olhar e aquele momento nunca acabou.













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