segunda-feira, março 31

Ouro Puro

Era como se o Mar fosse capaz de inundar o mundo por completo
Era como se cada parte do meu velho coração fosse rasgado ao vento
Da terra toda que conheci - cada visão que tive foi azul

E uma vez entrei em águas que eram quentes e de lá nunca desejei sair
Cada vez que tivera nelas era como se não mais fosse possível outra vida existir
E ia me transformando em flores. Em ramas. Até sumir.

Foste, certa vez, uma muda que tinha ambição de se abrir - e uma árvore se tornar
Desejara uma vez parar de ser casulo e as asas poder mostrar
Quisera que o puro de cada momento não fosse desperdiçado no que não fosse amar

Eram rosas as nuvens que corriam quando eu podia lá estar
Eram brancas as minhas tardes, quando com a companhia daquilo eu conseguia ficar
Eram azuis minhas visões, de tudo que eu acreditava, podia e queria. Azul era meu enxergar

Era ouro a própria vida
Que de tanto se maldiz e muito se perde, só no fim será possível crer
Que numa vida toda, a cada tempo
Era puro ouro o tudo que existia em você

sexta-feira, março 28

Domingos

Avisem todos eles que a ultima coisa que eu ouvi foi um trompete chorar
Diga a todos que eu não estava mais triste quando soube que iria partir
Deixe claro ao mundo, a todos eles, que eu senti tão fundo então o nascer da minha alma

Todos os domingos eram tão longos, cansativos e desperdiçados
Os dias em que eu ficava olhando a garoa caindo lá fora esperando meu Sol iluminar - mas nunca
Foram-se todos. Todos os quais nem tive, os quais perdi sem me deixar ser
E os domingos levavam todas as sombras dos restos de vida

Decidi terminar tudo. Não me permitindo contar mais
As noites, as horas, as fases da Lua
E tudo que fazia parte de mim. Tudo o que me fez sofrer, querer, não ter. Não mais.

O tempo implacável, em uma vida instável
Os anjos que me diziam eu não mais pertencer. Brincavam nas nuvens como sempre era de ser
Sobre meu coração que sempre derretia em uma música antiga
E minha cabeça que a paz já não mais conhecia.

E logo serei abençoada com toda a graça de um anjo azul
Então diga a todos eles que meu dias sempre foram quentes como um nascer estelar
Então contem ao mundo que sempre habitei em um outro templo Solar.

domingo, março 23

A volta da Lua. Completa Galáxia Solar

E te queria por esse um dia, meu pequeno implorar
E vigiava todos os céus, todas as vidas. A cada partida que quisera dar
Podia eu, em todos os meus sonhos, pequenos ou improváveis, me agradar
Em cada pedaço de vida, em cada xícara de chá


Não saberia antes, como é díficil aprender andar
As quantas vezes choradas dentro do próprio quarto
Quantas as vezes querendo o que era desacordado
Buscando onde sempre pensara existir no topo, um planeta para repousar


Então pensar, se assim não fosse, a minha curta vida
Então olhar, se possível é, todas as minhas idas
Em querer sempre ficar de pé


E busco o todo que me completa, nas grandes coisas que só meu Eu consegue ver
Temo os dias, que numa agonia desperta
Mas nunca as noites - encontro nelas o meu ser.

quinta-feira, março 20

Engolido

Ele queria viver na Lua, mas foi engolido

Pensava poder desperdiçar seu coração sem que soubesse ter um fim
Resolveu um cálculo, calou a própria boca
Carregava o peso do mundo em uma corda pendurada à seu rim
Engoliu todas as lágrimas que não conseguia dizer serem poucas.
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Mexia sua taça de vinho vagarosamente, como quem entende o que faz
Procurava razões para entender a vida fora da terra
Queria conhecer tudo o que fazia parte dela - Ela a terra, a sua menina, ela - a sua taça já vazia
Era preso por uma gaiola que há tanto se corrompia
Olhava fixamente para o copo d´água, como quem quer fazer algo evaporar
Foi engolido por uma galáxia que vinha sempre se alimentar.
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Tinha 7 facas cravadas nas costas
Uma tomada no lugar do rosto
Dizia que tudo do que se alimentava já não possuia mais gosto
Sua sombra era menor do que sua própria matéria
Por mais que trabalhasse e tivesse na vida,  tudo lhe era miséria
Sua lira era ausente, seu corpo já não mais ardente, seus olhos não mais estavam presentes
Fora engolido pela vida que ele próprio se deixou fazer dependente
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sexta-feira, março 14

Da Bússola

Eu estava perdida no Mar
Boiando fria, branca e gélida
Ele me puxou pela mão em meio as ondas tão fortes e negras
Me pegou como uma pesca bem feita e me beijou a boca
Tirou minha alma como quem tem fome há tanto
No seu barco fantasma nada havia de muito precisar se levar
Uma bússola, um litro de bebida, uma âncora que seria capaz de afundar o mar
A corrente se fazia intensa, o seu barco a pesar
De algo dali ele precisaria se livrar para que seu barco então conseguisse novamente ver terra
Não podia esperar dele nenhum ato óbvio, sensato - ele não é assim
Disse que me amava e tão logo junto a mim iria se encontrar
Engoliu a bússola, se banhou com o rum e amarrou a âncora a mim
Apertou-me tão forte contra seu próprio peito
Me jogou de volta ao mar.

"Ana" - Por Talles

Ana que se faz de tonta
Ana que a todos encanta
Uma rima pelo sorriso dela
Um colar persa, uma saudade
Ou uma canção no escuro
Relembra uma tristeza
Fala de tudo com frieza
Pense nele mas não se alvoreça
Ana do coração pagão
Quadril com os ritmos de um violão ou de uma valsa discreta
Coração poeta
Lembrança indiscreta do mais doce dia, que te assombra e te alucina
Olha Ana , teu peito ta cheio seja do doce ou do amargo
Seja minha pequena de coração antigo
Ana que atua e faz da vida sua Lua, faz dos sonhos um mar de fel
E renasce a cada brilhar
Ana, menina da varanda
Espera ele passar, mas não vá se cansar
Não espere o dia raiar
Ana que a todos ama
Ana de nome sonoro
Ana de comum e de gentil
Ana e seus adornos, em livros de filosofia
Ultrapassa a linha tênue entre você e a fantasia


Talles Krum