sábado, maio 30

Hoje é

Em correntes d'água vivem meu ar
E se já não mais posso ser, devo, como quem reza
olhar o presente, tendo em memória o passado
de algo que tanto quis e agora vivo a tocar

Dos olhos, tão fortes que eram; não mais
as mãos que brilhavam na luz do Sol quando se colocava
O céu era tão maior quando a lua se fazia estar
mas não me enxergo tão mais como conseguia enxergar

Do tempo, dos dias, as horas passar
a vida em si, hoje tão mais rápida
me parece que tudo sempre está a acabar

Como se possível fosse, estando numa vida não minha
agora conheço, e tenho, coisas que pensava não ser. Nunca então.
Mas pelos que passam - não julgo, mais nada. Não se sabe o que se há de querer.

sexta-feira, janeiro 30

Eu Não Esperei Ninguém Que Não Fosse Você

Eu não esperei ninguém que não fosse você
Meu tão pensado e quase impossível
Meu coração dirigido
Não seria certo com ninguém além deste
Sonhando com o dia que você chegaria

Para vir fazer minhas flores desabrocharem
Pelo eterno esperar você falar
E o vento que trazia suas dores tão iguais as minhas
Por te dizer milhares de vezes que eu sempre acreditei que aconteceria

Me abrace realmente apertado
Dentro inteiramente dos seus braços
E sentirei por completo seu corpo
Assim como uma madeira que se racha
Descobrindo cada giro do que é novo
A visão da imensidão
Ecoando no ar
Como uma bandeira de conquista

Eu não esperei ninguém que não fosse você
Procurando existir alguma ajuda
Um poder de sobrevivência
Quando meu coração estava inteiro em pedaços
E minha alma fria
Não achei que viveria com vida novamente
Eu não esperei ninguém que não fosse você
Imaginando o absoluto
Coisas que pareciam impossíveis de acontecerem
Eu vindo em uma estrada


Vivendo atrás do desconhecido
Isso porque havia um Rei, um herói invencível
Estava me esperando em algum lugar também
Eu não esperei ninguém que não fosse vocêO sorriso em seu rosto já é o bastante
Já ilumina tudo o que existe á minha volta
E foi como eu recebi alegria
Um amor que se aprendia a respirar

Eu não esperei ninguém que não fosse você
Aguardando dia e noite
Para finalmente ter a alegria e o quanto eu queria
Em todos os dias e momentos da sua vida
Perto ou mesmo dentro apenas de sua memória.

Nunca pensei que um dia encontraria você

Eu não esperei ninguém além de você




Je n'attendais que toi.avi

sexta-feira, dezembro 5

Um Luar

Ele chegava em casa todas as noites
Tardes noites
E encontrava seu doce anjo à esperar
Voltando seus olhos para fora da janela
Fixos na Lua
-Oh doce amada, desperta. Vem dar teu calor ao azul escuro do céu.

E por tantos anos e anos foi assim
Todos os dias, as noites em que ele chegava
Lá estava ela
A luz de sua vida
Brilhando - sentada na cama olhando o céu
Infinito céu.

Ela se findou
Em luz.
Em ar.

Uma noite
Triste noite ele chegou e não mais ela estava lá
A cama arrumada, a janela por completa aberta
Frio e vento se faziam presentes apenas dentro de lá

Ele correu em seu desespero
Pensava que para todo o sempre ela estaria ali a esperar
Não mais.

Quando ele notou para fora da janela
A Lua estava maior
Mais branca. Pura.
Ela havia ido para lá
Deixando-o e não mais precisando ele esperar.

Ela sempre foi um luar.

sexta-feira, novembro 21

Pouco. Tudo.

Imagino o sol fora da minha janela embaçada, como vejo todos os dias ao acordar. Mas dessa vez vejo nós dois olhando através dela, minha janela. Numa manhã de sol e ar fresco.
A luz entra, e sinto a brisa passar vagarosamente em meio aos fios de cabelo.
Tentamos espantar a terra do sono.
E mesmo sabendo que não faremos nada o dia todo, o dia se valerá.

Levanto, com uma força fraca que me puxa, e saio da minha segurança fechada.
Sentada no jardim, com um vestido qualquer de cor leve, puxo meus pés para cima da cadeira, estão brancos e limpos, como lá.
Sentada frente a uma mesa que fica ao lado da pequena vala de água que corre
Ouço, um som tão doce.

Ascendo o fogo, preparo com calma o chá que iremos beber por horas. Surpreendo-me por duas mãos puras e fortes deslizando meus quadris - Tão calmo, tão fundo. E toca tudo o que precisa. Como quer. Onde e como preciso. Horas ali. 
Meu menino
Agora você sabe.
Tão forte. Só um menino.


Mil vestidos para colocar e você ver. Todas as atuações para fazer. Tudo como quiser.
Me encha com seu brilho.
Te colocando agora sempre no meu show.

Precisando ter. Chorando sem saber o quanto mais vai querer.

Um túnel de luzes, milhares delas. Sofro de medo à noite fria.
Sofria...

Olá paraíso. Acordei. Te vejo em luzes douradas me segurando fraca.
Com jeito, fico segura em seu colo. Não temo mais. Fique aqui.


Danço no jardim a noite, giro com as estrelas. Minhas estrelinhas; Você dali olhando sentado, com as mãos apoiadas próximo ao rosto, apenas sorri, vendo como se pode ser feliz numa noite sem nada. Com tão pouco.

Uma vida. Como eu posso? Como podemos? Não temos nada.
Temos tanta coisa.
Tudo.

sexta-feira, outubro 3

Poente

    Quando estou abaixo do Sol vestida com um pano leve e solto
Sinto cada centímetro de alma ser aquecida - parte a parte
Me parece que todos os problemas de minha vida são inexistentes
Nada me preocupa, nada me pesa, nada mais me importa.
Nada além do Eu ali e só ali. Ali. Só.

O mal estar que sinto e que me acompanha a cada passo, noite pós noite
Já não é mais possível me deixar. Sem isso não ser mais ser eu.
Pois sei, não sou o que realmente sou diferente de ser assim.
Nunca existi diferente do que sou.
E quando me pego lembrando de todas as coisas que já quis ser e ter num passado
Nenhum mais desses desejos existem em mim. Nenhum deles me impulsiona sair daqui.
Não sou o que anos, tantos anos me enganei ser - Eu, um ser feliz.

Minha cabeça queima como se fosse uma brasa já quase totalmente apagada
Mas ainda como uma brasa, queima e se faz doer
Quente e queimando lá existe.

Todas minhas noites de sono que duram horas e horas seguidas, são as noites bem dormidas
Quando com ele estou, sou tão feliz. Mas me engano em achar ser.
Como tudo é algo que terá fim.
Nas noites que passo em claro, são horas sem fim. O dia parece nunca enfim clarear.
Sou eu em mim.

Minha xícara de chá. posta no meio do meu jardim espera por mim
E lá ouço os pássaros cantarem. Fim de tarde de Sol poente esquentando a mim.
Bebo da xícara, sinto tanto falta dele. Choro como se lágrimas pudessem levar o que dói aqui.

Bem por dias, outros desolados. Mas nunca tão infeliz ou feliz.
Vivo.
Um ser mal completado.

segunda-feira, agosto 4

2[C]2 .1.

.
Muito tempo passou e notei ter perdido então algumas coisas do que poderia ser
Eu ser. Ter sido. Ele - Tudo enfim
Uma sensação estranha se fazia presente durante o tempo todo
O que foi uma nuvem negra e pesada por muito enfim começava se desfazer
Sentia um feixe de luz abrindo acima no Céu; provavelmente aliviando a tensão de tanto tempo.

Por incontáveis vezes em pouco tempo passado, eu abria a janela durante as garoas
Procurava encontra-lo ali, frente a minha casa, esperando e tendo algo para falar
Mas sempre o que via eram árvores molhadas e o vento com força fazendo-as balançar
Ele, na verdade, nunca encontrei por lá.
Sentia-me congelar e isso me fazia feliz. Mas sangrava muito a dor interior, então voltava.
Uma vez quase morri assim.
Voltava os olhos postos ao Céu, a lua, a água que não queria se calar.
Chovia e só chovia por lá. Acredito que por muitos anos
Todos os dias. Todas as noites. Sem cessar.
Eu precisava ver o azul escuro para poder lembrar
Precisava ver a luz do dia para então chorar
Sempre chovendo. Sempre chovendo.
Doia-me os braços, as pernas, meus olhos que não conseguiam se fechar
Não dormia, não comia - vivia a analisar
A cama tinha um cheiro doce, o quarto ar o quente que não me permitia por algum motivo sair
Como não conseguia então, aprendi a viver lá.
Assistindo todas as madrugadas devagar; pouco do mundo estava acordado para acompanhar
Me fazia um estranho bem todas essas horas desse desgastar.
Consegui depois de tantos e tantos dias assim mal vividos, aprender a gostar de tudo que ali se fazia estar
Cada gota que chovia, cada luz que aparecia, cada música que ouvia. E o eu, o eu ali estar.
Então era - Sozinha. Com o tudo daquele nada - Por muito vivi lá.
Certo dia, olhando como de costume à minha janela de vidro embaçado
Por ali ele passou, eu não conhecia, nunca havia visto
Mesmo tendo ficado centenas de tempos há tempos ali sem nunca parar de olhar
Não era comum, nunca passeava por entre as ruas em que eu costumava habitar
Dessa forma, não pude não perceber sua existência nova naquele lugar
Passava por ali, salvando a vida da minha janela embaçada por dias e dias
Eu não conseguia falar.
Minha janela apesar de dar vista a tudo de belo a frente de onde eu vivia
Por algum motivo me impedia de falar
Certo dia, num fim de tarde, como de costume, estava eu deitada de costas para o Sol
Que já começava a em noite se transformar.
Ouvi seus passos e suas mãos duas batidas em minha janela dar
Ele que passava na frente de onde eu vivia vinha me convidar para passear
Falei que não podia, não sabia mais como sair de lá; Sentou a minha frente e então se pôs a chorar
Esperou assim o Sol de vez sair de lá, antes que a lua viesse minha casa clarear - Puxou-me
Tão forte, querendo dali de dentro me tirar. Não conseguia.
Me disse que não sabia o que me fazia ali dentro presa estar
Não haviam grades. Não haviam trancas.
Não enxergava o que me deixava presa dentro daquele lugar
Ele notou em minha roupa manchas e o rasgo do lado esquerdo de minha blusa
Olhou para baixo, levantou os olhos e sorriu
Soube que de costume eu fazia algo que então era certo que me impediria sair de lá
Pediu gentilmente que eu tirasse meu coração, notando que era esse o motivo de meu sangrar
Tirei, com medo da intenção que aquele novo quisesse me causar
Quando tirei, ele quase já não batia, quase nenhuma cor mais havia
Ele estendeu a mão me pedindo para segurar
Fiquei com medo por lhe entregar
Sabendo ele que eu não conseguia dali sair poderia fugir com ele e eu não iria mais respirar
Em suas mãos, ele segurou com força, como sua aparência costumava mostrar
Cortou então o seu próprio lado esquerdo, que estava oco e sem cor. Colocou o meu no lugar
Olhou para o Céu- A lua começou clarear
Pediu minha mão para de novo dali tentar me tirar.


Por algum motivo, sem que nada físico eu visse eu consegui sair de lá.

A janela fechou.
Clareou a luz da lua. Eu e ele
Na rua que apesar de eu sempre habitar, nunca havia saído para passear.

sexta-feira, maio 23

Analisando Átomos


  Sua vida começou - ai está o som de um retroprojetor rodando
Antes de você, antes de todos que lhe trouxeram até aqui, galáxias explodiram
Estrelas nasceram, o Sol ficou mais frio e mesmo assim a vida sempre continuou
Você agora mora nesse mundo, assista sua curta e medíocre vida perante tudo isso
É um bebê deitado dentro de seu berço temendo a tudo o que o cerca e chora para poder comer
É uma criança sentada em seu quarto com medo da morte de seus pais após ter descoberto o que é morrer, Rindo de bolhas de sabão, correndo sem nunca cansar, colorindo o mundo com uma caixa de lápis de cor, Encantada com um avião a decolar, com uma dor inconsolável por ver um passarinho morrer
Pintando os dedos dos pés, olhando as nuvens correr, sorrindo sem falsidade e desejando crescer
Agora és um adulto, um pobre, um diabo, um oco ser - Perdeu-se toda a certeza
Continua a assistir sua vida de dentro de sua janela, agora trancado, com medo, desconfiado do tudo
Cartas de um baralho de incertezas giram a sua volta, a profecia do incerto que você diz saber
Tenta-se pegar uma no ar, para que possa seguir de fato um caminho. Nada sabemos
Palavras de amor saem da sua boca e entram perfurando o coração de outra - Você está amando
Um dia, um abraço, alguns momentos juntos, um afagar nas mãos, o beijo, o esperar, planejar um futuro
Desperdiçando todo o tempo, assistindo aos filmes, decorando canções de amor, escrevendo cartas,
Tomando o corpo do outro como um alvo desejado - O  casamento; o amor eterno agora; a casa
A vida a dois; os filhos; os planos; as viagens juntos; a família
O cansar, a rotina; o acostumar a qualquer reação
As falhas, mentiras, desgostos -   Prometendo o que não poderá cumprir.
O amor acabou - Os amantes se separam em dor, em perda da total razão. Se foram as certezas
A vida te desperta te dando as cartas que tanto você queria
Seu peito agora falta um pedaço para sempre.
Fim de uma vida.
Sua mãe lhe consola, colocando as mãos idosas com textura já de papel sobre as suas que estão tremulas
Ela diz que você precisá recomeçar - É tudo tão escuro, difícil e vazio. Mas ela estará sempre lá
Apoiando você em tudo - O coração dela é um mar sem fim de um amor maternal.
Ela te promete sempre te apoiar, como sempre mesmo fez. Um dia ela também se vai
Seu peito agora é duro e frio, a perda de quem nos fez, de quem nos criou e tanto nos amou
Nosso apoio, nossa base, nosso pilar
Para onde se foi? Quem lhe tirou? Um eterno adeus a quem mais nessa vida te amou
Mais um buraco profundo existe agora em seu peito
Você sente o fim da tarde como um pesar melancólico e tão doloroso - A vida pesa; O mal estar
O por do sol dessa tarde ensolarada é mais triste do que qualquer dia de sua vida
O por do sol da própria alma. Não há nenhuma luz nessa escuridão
Isso lhe deixa para baixo, não há saída de si, não há tempo para analisar
Você desiste da vida que conhece, viaja para longe, encontra pessoas e vidas que nunca viveu
Todos se conhecem, se unem, se amam, se completam. Você não faz parte disso, não há vida ali
Sua vida não existe lá. Não há tempo. Você viajou para tão longe, o que encontrou?
Um trem que corre tão rápido não faz sentido para você, nenhuma paisagem mais lhe interessa
Longe de seus filhos, de sua casa, da mulher que amou. Outros demais talvez morreram

Você nunca esteve tão bonito - Perdeu-se toda ilusão, não está mais interpretando
A vida inteira esteve interpretando
Não há mais tempo para analisar
Então você olha a vida novamente pela sua janela, seja qual for
Do trem, do quarto, do coração e da vida.
Te pesa tanto as horas do dia. Agora você se conhece
Já amou, perdeu, sofreu, duvidou, criou e finalmente existiu
Abrindo o livro que tantos anos mofou na sua estante, então o lê - Ele é incrível!
Você deveria ter lido antes, há tantos anos; possivelmente tudo em sua vida seria diferente se tivesse lido
Então repouse com o livro ao seu lado, feche seus olhos, durma como uma criança cansada de brincar
Cansado então de viver
Mas esperando sempre poder acordar
A vida já não mais planeja o seu ser
E não se calculam álgebras
Não se contam mais os átomos
Não mais importa o correr dos ponteiros
O Sol ainda está ali
As estrelas irão esfriar
A poeira cósmica do todo da vida
Então durma
Você parou de interpretar.

domingo, maio 11

Definição para o Trabalho de Teatro - O Artista Real


  O teatro é um lugar puro - em técnicas, de cenas, de sentimentos que não são reais mas são vistos
O palco é sua ferramenta de base, como o chão de uma casa, mas nada é sem quem mora ali
Os atores são a vida do que é sustentado por aquele chão - A vida que emprestam ser
Mas nada nesse meio é uma brincadeira como a maioria pensa ser, dizendo ser diversão
Teatro não é diversão, não é um hobby, uma fuga dos dias de trabalho remunerado. Não.
Teatro é em sua definição a arte que mais necessita de dedicação, estudo e conhecimento
De forma alguma como tantos atores, diretores, cenógrafos dizem ser uma arte de divertimento
Não existe escape em diversão dentro do teatro, a não ser para aqueles que assistem um humor
Humor apenas no ato em cena, já feito, já criado - O trabalho em si
A atuação, seja ela no gênero que for necessita de todo o estudo e ensaio
Seja para fazer quem assisti rir do começo ao fim ou para faze-los chorar como nunca haviam feito

O teatro é seu trabalho como um todo, como qualquer outro que precisa de foco e atenção total
Não há nesse âmbito espaços para dizer que se está lá para desanuviar a cabeça e conhecer pessoas
Não há essa "liberdade" imposta de quem é do teatro não tem preconceitos, é livre de sexos e medos
Pessoas do teatro, as que que pertencem mesmo ao trabalho, a vida nele, sofrem de todo o mal do resto
Cor, sexo, medos, carências de atenção, duvidas e problemas financeiros
Não se deve pensar que ser do teatro é viver da boêmia
Bêbados e compondo o que se bem entende - "Aceitem minha arte quem quiser!" Não.
Teatro precisa de trabalho, foco, estudo, respeito e como qualquer outro modo de viver - retorno
Artistas medíocres gritam aos ventos que são o talento deles acontece sem esforço
Que só precisam aproveitar o bom da vida, beber, usar das pessoas e ir lá ganhar sua glória de artista
Artistas esses nunca foram, mas por mais que incrível que não se entenda
Ninguém lhes tira da cabeça que eles creem mesmo o quanto são bons, sem ser.
Mesmo que todos saibam que não passam de jovens abutres que pousam no esforço dos que fazem
Muitos elogiam, vangloriam e até acham graça desses que levam mérito sem ter
São espertos, sagazes e criam oportunidades, dizem eles, mas não - São fracos
São como em qualquer outro meio de trabalho pessoas que usam e estragam o que poucos são
Os atores de verdade. O teatro de verdade. A vivência cênica real é tão maior que toda essa ilusão
É uma vida de estudo, de ensaio, de busca, de foco, atenção, compreensão e então sim - o apresentar
É necessário ganho, troca, retorno e sempre aprendizado nesse trabalho. Ganhar sempre
Não só reconhecimento e dinheiro, mas todo o momento se olha para dentro e descobre o novo
Dentro de si, dentro dos olhos que quem gosta do que viu e nos olhos de quem desaprovou tudo

Artistas são pessoas comuns que comem, dormem, sofrem e riem, mas os que apenas SE julgam ser
Costumam dizer que na vida basta beber e sofrer por amor - tendo esses nunca amado ninguém
Artistas que pintam, que atuam, que dançam, qualquer um deles
São tão grandes e tão mirrados como qualquer outro ser, de qualquer outro meio
Médicos, advogados, donas de casa e pais de família.
Todos precisam do que a vida e um trabalho deve oferecer - satisfação e retorno
Muito ou pouco. Não existe essa alegria em dizer que se vive de pão e água e se é feliz
Não vi os artistas passados que morreram de fome e se mataram por depressão verem beleza nisso
E esse que cantam essa alegria na fome e na miséria jamais passaram se quer perto de sofrer desse mal
E claro, jamais passaram perto de realmente serem de fato artistas. Brincam de ser e para eles já basta
Basta dizer que viram algumas peças, que já fizeram algumas, e claro, que sofrem do "mal da minoria"

Os artistas que vejo existem porque fazem
Trabalham e recebem, cedo ou tarde o reconhecimento que lhe é merecido
Como qualquer outro, estudam, buscam seu foco de vida, a satisfação de ganhar com o que faz
Não lhes basta cair de bar em bar chorando a vida gloriosa que nunca conseguiram ter
Pois eles tem ou logo terão o que fazem por onde
Não lhes contenta apenas esses mesmos se enganarem ser algo
Uns tantos que cobram do mundo reconhecimento que nunca mereceram ter, nunca estudaram por onde
Querem o topo e a sonhada vida invejada que esses acreditam existir
Não basta a eles viverem uma vida que lhes agrada, querem que todos lhe invejem
E isso para esses é finalmente ter atingido o foco. Hipócritas.
Nenhum desses vive de pão como dizem querer
Nenhum deles deseja realmente com tanto fervor atrasar seus aluguéis e não ter do que viver
Ninguém quer viver assim. Ninguém deve desejar viver assim.
Viver assim é aceitar o fracasso da fraqueza de então realmente não ter sido o que se enganou ser.


E se querem ser grandes e postos em memória pelos anos do belo trabalho que fizeram - Façam!
E se acreditam que a vida trabalhando em atuar é o que se vale viver - estudem para.
E se por ventura ainda se engana que viver em algo na arte é tão mais fácil e glorioso - Desista!


Ganhe pelo que faz
Mereça pelo que realmente trabalhou para ter e ser
E não se iluda sonhando que quando morrer será  lembrado pela eternidade
Talvez seus trabalhos sejam porque foram muito bem formados e então os darão o merecido crédito
Mas o artista em si, o criador um ser como outro qualquer, vai morrer e em dias o esquecerão



Todos sabemos o nome da obra e como ela se passou
Quase nunca sabemos do que o artista morreu, e se já morreu.

segunda-feira, abril 28

Veio como se pudesse deturpar tudo por onde passava
Perdido como minhas mãos envoltas pelo frio
Chegou como uma luz que cegava seus olhos, mas mesmo assim nunca aprendeu
Você ria da da chuva e eu esperava o voltar das ondas do mar
Nos encontramos lá, de uma forma inesperada
Um beijo frio, com água gelada caindo sobre nossos ombros
E nossos dias passaram a ser irreais
No entanto, a culpa não foi nossa

Entendemos o que poderia ser perdido
Entendemos o que ganhariamos nos perdendo
Você sabia o quanto eu queria ir
Eu soube o quanto você tentou

Enquanto você se banhava na água da chuva e eu me afundava nas águas de algum outro mar
Em um dia cinza e estático, como sempre fomos - um a cada ponta da vida
Então não podemos dizer para qual dos lugares a água levou nosso coração
Mas eu sempre o encontrava lá
Mesmo muito depois
Tanto tempo, de tantos dias, tantas vezes que perdiamos
Numa tarde cinza, mesmo longe do cheiro de terra e do gélido ar
 Quando eu olhava para dentro você estava lá.

quinta-feira, abril 17

Inteligên(ele)cia

É de uma forma dura, quase brutal que me interessa saber
E todos esses pensares, dos seus pesares, apesar de mal conheceres a ti
Gosto por suas coisas, suas escolhas e todos os teus enfins
Temo por sua negligência, da impaciência um dia chegar ao fim

Gosto pela forma que anda, como se equilibrasse o mundo em que pisa
A forma que fala, que olha e que se esquiva
Ávidos - seus olhos ávidos que gosto de ter
Que correm páginas, livros, paisagens nas pessoas que habitam dentro de você

Ele teima na razão que crer ter
Ele busca saber do que já sabe e o que não sabe quer entender
Ele chora e sorri como uma criança junto a mim, como se eu não fosse perceber

Porque foi tão repentino, tudo que nos fez acontecer
Porque foi tão verdade, a forma que nos fizemos conhecer
Por estar sendo sempre mais; em saber mais sobre tudo que lhe ensino e aprendo de você

sábado, abril 5

Quando disse

Ele se ajoelhou fraco e cansado na frente dela. Ela sentada recostada na cadeira, imóvel
Os olhos estavam tristes e marejados, ouvindo ele dizer:

-Você me faz sofrer desde o primeiro dia em que eu soube que você existia.
Tudo, desde então, tudo desde lá é frio, vazio e me amargura. Por que você faz isso comigo?
E todos os meus sonhos, as minhas vontades, as minhas ilusões, nada disso te faz pensar?
Você não sente culpa? Seu coração é tão vazio e gelado que você nunca ao menos se comoveu
pensando no quanto me fez sofrer, quantas as vezes? Ele a fitava com os olhos, nervoso e desesperado.
Ela continuara sentada, apenas olhando fixamente tudo o que saia da boca dele em um confissão
-
Infeliz! todas as vezes que não dormi imaginando estar com você ao meu lado.
Vezes que tudo o que eu lia e buscava conhecer era porque você estava dentro daquilo. Em tudo
Ah, quantas as vezes você esteve junto a mim dentro de minha imaginação infantil, comendo ao meu lado, viajando, brincando, sonhando, sorrindo... -Gritou agressivamente apontando-a -Alias, eu nunca te vi sorrindo realmente, você deve ser incapaz de um ato desses, é demais para uma pessoa de uma alma tão terrível quanto a sua. - Ela fez levemente um sinal de negação com a cabeça em um sorriso quase imperceptível, e ele baixou a voz, fraco. - E tudo que imaginei era pra ter sido real, mas você nunca permitiu, nunca me deu a mínima oportunidade de estar um tanto próximo de você.
Ah, como eu te odiei! Como odiei você ter me feito chorar para meus amigos, odiei você ter feito eu me dar ao desprazer de fazer outras pessoas gostarem de mim por terem pena do que eu passava, odiei pensar onde você estava e eu nunca soubera, e me fizera imaginar e pensar as piores coisas - Com quem estaria
Estava viva ou morta? Estava aqui ou do outro lado do mundo. Pensara ao menos uma vez em mim durante todo esse tempo? Eu sempre me perguntei tanto isso, se você alguma vez por tão pouco que fosse sentiu minha falta, lembrou do meu nome ao vê-lo ou ouvi-lo em outro lugar. Odiei, odiei tudo o que eu não sabia
Odiei tudo o que queria ter perto de mim e não estar, odiei você! Odiei tanto você.
Querendo sempre, a todo momento, todos os dias de Sol, todas as Luas, tudo o que era você
Te ver de perto, te ver chorar, sentir seu corpo, dedilhar seus cabelos, provar seu gosto, te enfeitar
Entrar em seu Céu, chorar sua mágoa, conhecer o que te faz sofrer, saber sua vida. Tudo de você
Descobrir onde você vivia, como eram seus dias, de onde viera, e onde queria estar.
Quase sem forças de tanto lhe abrir o peito em desabafar, ele segurou suas mãos e apertou-as como se não mais pudesse solta-las - São nos seus olhos que eu nunca consegui entrar, no seu corpo que nunca pude tocar e mais que tudo, acima disso, no seu peito que penso que nunca vou poder estar.
- Correu em seu rosto a mais dolorida lágrima de verdade - Mas eu te amo tanto, mesmo assim
Eu te amo tanto, sem nada ter podido, sem nada ter feito. Ainda assim.

Como se tudo pudesse ser dito em segundos, ele entendeu que tudo que ele sentia, o que havia
sofrido, perdido e chorado, era do conhecimento dela. Ela segurou as mãos dele contra seu peito e o olhou vigorosamente dentro de seu orgulho ofendido.
Aquele olhar e aquele momento nunca acabou.













segunda-feira, março 31

Ouro Puro

Era como se o Mar fosse capaz de inundar o mundo por completo
Era como se cada parte do meu velho coração fosse rasgado ao vento
Da terra toda que conheci - cada visão que tive foi azul

E uma vez entrei em águas que eram quentes e de lá nunca desejei sair
Cada vez que tivera nelas era como se não mais fosse possível outra vida existir
E ia me transformando em flores. Em ramas. Até sumir.

Foste, certa vez, uma muda que tinha ambição de se abrir - e uma árvore se tornar
Desejara uma vez parar de ser casulo e as asas poder mostrar
Quisera que o puro de cada momento não fosse desperdiçado no que não fosse amar

Eram rosas as nuvens que corriam quando eu podia lá estar
Eram brancas as minhas tardes, quando com a companhia daquilo eu conseguia ficar
Eram azuis minhas visões, de tudo que eu acreditava, podia e queria. Azul era meu enxergar

Era ouro a própria vida
Que de tanto se maldiz e muito se perde, só no fim será possível crer
Que numa vida toda, a cada tempo
Era puro ouro o tudo que existia em você

sexta-feira, março 28

Domingos

Avisem todos eles que a ultima coisa que eu ouvi foi um trompete chorar
Diga a todos que eu não estava mais triste quando soube que iria partir
Deixe claro ao mundo, a todos eles, que eu senti tão fundo então o nascer da minha alma

Todos os domingos eram tão longos, cansativos e desperdiçados
Os dias em que eu ficava olhando a garoa caindo lá fora esperando meu Sol iluminar - mas nunca
Foram-se todos. Todos os quais nem tive, os quais perdi sem me deixar ser
E os domingos levavam todas as sombras dos restos de vida

Decidi terminar tudo. Não me permitindo contar mais
As noites, as horas, as fases da Lua
E tudo que fazia parte de mim. Tudo o que me fez sofrer, querer, não ter. Não mais.

O tempo implacável, em uma vida instável
Os anjos que me diziam eu não mais pertencer. Brincavam nas nuvens como sempre era de ser
Sobre meu coração que sempre derretia em uma música antiga
E minha cabeça que a paz já não mais conhecia.

E logo serei abençoada com toda a graça de um anjo azul
Então diga a todos eles que meu dias sempre foram quentes como um nascer estelar
Então contem ao mundo que sempre habitei em um outro templo Solar.

domingo, março 23

A volta da Lua. Completa Galáxia Solar

E te queria por esse um dia, meu pequeno implorar
E vigiava todos os céus, todas as vidas. A cada partida que quisera dar
Podia eu, em todos os meus sonhos, pequenos ou improváveis, me agradar
Em cada pedaço de vida, em cada xícara de chá


Não saberia antes, como é díficil aprender andar
As quantas vezes choradas dentro do próprio quarto
Quantas as vezes querendo o que era desacordado
Buscando onde sempre pensara existir no topo, um planeta para repousar


Então pensar, se assim não fosse, a minha curta vida
Então olhar, se possível é, todas as minhas idas
Em querer sempre ficar de pé


E busco o todo que me completa, nas grandes coisas que só meu Eu consegue ver
Temo os dias, que numa agonia desperta
Mas nunca as noites - encontro nelas o meu ser.

quinta-feira, março 20

Engolido

Ele queria viver na Lua, mas foi engolido

Pensava poder desperdiçar seu coração sem que soubesse ter um fim
Resolveu um cálculo, calou a própria boca
Carregava o peso do mundo em uma corda pendurada à seu rim
Engoliu todas as lágrimas que não conseguia dizer serem poucas.
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Mexia sua taça de vinho vagarosamente, como quem entende o que faz
Procurava razões para entender a vida fora da terra
Queria conhecer tudo o que fazia parte dela - Ela a terra, a sua menina, ela - a sua taça já vazia
Era preso por uma gaiola que há tanto se corrompia
Olhava fixamente para o copo d´água, como quem quer fazer algo evaporar
Foi engolido por uma galáxia que vinha sempre se alimentar.
6


Tinha 7 facas cravadas nas costas
Uma tomada no lugar do rosto
Dizia que tudo do que se alimentava já não possuia mais gosto
Sua sombra era menor do que sua própria matéria
Por mais que trabalhasse e tivesse na vida,  tudo lhe era miséria
Sua lira era ausente, seu corpo já não mais ardente, seus olhos não mais estavam presentes
Fora engolido pela vida que ele próprio se deixou fazer dependente
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